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Cerrado comemora investimentos de 5,5 milhões de euros da UE

Projeto Ceres se destaca por valorizar um modelo econômico mais sustentável e que prioriza os produtos locais.

Thomas Hessel - Palmas, TO

31/05/2021

| Atualizado em

02/06/2021

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Cerrado comemora investimentos de 5,5 milhões de euros da UE

Palmas, TO - Fazer o uso consciente e sustentável da terra, valorizando os produtos locais, como babaçu, buriti, baru e mel de abelha, é apenas um dos eixos considerados pelo Projeto Ceres, iniciais de Cerrado Resiliente. Resultado da parceria entre a União Europeia (UE) e organizações não governamentais do Brasil e Paraguai, como ISPN, WWF-Brasil e WWF-Paraguai, com coordenação do WWF-Holanda, é uma iniciativa que visa fortalecer as comunidades locais e a paisagem de forma inclusiva.

O projeto é extremamente bem-vindo, especialmente quando dados mostram que a região é uma das mais devastadas do mundo. Levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revela que esse bioma ocupava 23% do território brasileiro, mas a devastação tem sido tão intensa que a área degradada equivale ao estado de Santa Catarina. De 2020 para 2021, houve aumento de 13% nas áreas desmatadas.

O Ceres vai concentrar recursos humanos e financeiros para encontrar, testar e alavancar soluções que possam ser replicadas em outras savanas ao redor do mundo. A perspectiva de integrar comunidades e suas atividades econômicas à paisagem passa pelas três áreas eleitas como prioridade pela União Europeia: alimentação, biodiversidade e clima. "Quando olhamos para o planeta, o Cerrado sul-americano tem um peso significativo em todas elas", explica o Embaixador Ignacio Ybanez, chefe da Delegação da União Europeia no Brasil.

Segundo Ybanez, esse bioma exige diferentes soluções para que seu desenvolvimento seja inclusivo, de baixo carbono e sustentável e para que haja conscientização nacional e internacional sobre sua importância para a preservação da natureza e, principalmente, para a segurança alimentar dessas áreas.

Para se ter uma ideia, o Cerrado detém vastos estoques de carbono, principalmente no subsolo, com aproximadamente 13,7 bilhões de toneladas. O processo de conversão do bioma impediria, por exemplo, o cumprimento dos compromissos internacionais do Brasil nas Convenções do Clima e de Biodiversidade.

O ponto de partida do Ceres é um olhar abrangente, que vai além das grandes plantações de soja, milho e algodão e inclui modos de produção e populações que hoje têm pouca visibilidade, apoio técnico e proteção de políticas públicas. Segundo o Censo Agropecuário Brasileiro de 2006, 69% de todas as propriedades rurais do bioma pertencem a pequenos agricultores. Além disso, o Cerrado abriga inúmeros grupos indígenas e milhares de comunidades locais que dependem da biodiversidade para a sua subsistência. Além disso, se estende para além das fronteiras brasileiras.

"As pessoas geralmente não relacionam o Cerrado com o Paraguai, no entanto, embora numa proporção menor, o bioma está presente. Com esse projeto pretendemos tornar visível essa ecorregião e a sua importância, bem como contribuir com o Brasil para um modelo de desenvolvimento inclusivo" diz Patricia Roche, ponto focal técnico do WWF-Paraguai.

Com duração prevista de quatro anos, o projeto foi estruturado em três eixos complementares e que se fortalecem mutuamente, promovendo: 1) agricultura sustentável e sistemas alimentares de baixo carbono; 2) conservação por meio do uso sustentável da sociobiodiversidade e do fortalecimento das áreas protegidas; 3) fortalecimento de políticas públicas e privadas e práticas de segurança hídrica e alimentar, manejo sustentável da paisagem e redução da conversão de ecossistemas.

Na prática, o Ceres será um grande laboratório socioambiental, identificando e testando soluções com potencial de serem disseminadas para outras localidades. "Ao fim do projeto esperamos deixar um legado permanente de desenvolvimento sustentável e inclusivo para o Cerrado", explica Carolina Siqueira, Coordenadora de Conservação do WWF-Brasil.

O Ceres também visa apoiar a redução do desmatamento na região, o que significa que também haverá interlocução com produtores de maior escala para buscar soluções mais sustentáveis para a ampliação de área produtiva, através da reabilitação de áreas degradadas, e reduzir a pressão por mais conversão de vegetação nativa.

Sobre o ISPN
O ISPN é uma organização da sociedade civil sem fins econômicos e desde 1990 atua pelo desenvolvimento com equidade social e equilíbrio ambiental, por meio do fortalecimento de meios de vida sustentáveis e estratégias de adaptação e mitigação às mudanças do clima. A organização acredita que um dos meios para promover a conservação da natureza e enfrentar as desigualdades sociais é o apoio a povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares no desenvolvimento de atividades sustentáveis em paisagens produtivas.

Sobre o WWF-Brasil
O WWF-Brasil é uma organização não-governamental brasileira e sem fins lucrativos que trabalha para mudar a atual trajetória de degradação ambiental e promover um futuro em que sociedade e natureza vivam em harmonia. Criado em 1996, atua em todo Brasil e integra a Rede WWF.