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Brasil está 53% abaixo da taxa de cobertura de mamografia, diz AVON

Estudo revela que após a pandemia o país piorou nos principais indicadores de atenção ao câncer de mama

FERNANDO HESSEL - Washington, DC

13/10/2022

| Atualizado em

13/10/2022

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Brasil está 53% abaixo da taxa de cobertura de mamografia, diz AVON

 

PALMAS, TO - Dados apontam que no ano passado o Brasil registrou a menor taxa de cobertura mamográfica para mulheres entre 50 e 69 anos, atingindo a marca de 17% de alcance, ainda menor que em 2019, quando o percentual era de 23%. Esse e outros indicadores preocupantes foram levantados pelo Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no Sistema Único de Saúde, que avaliou procedimentos de detecção e tratamento da doença entre 2015 e 2021. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que 70% da população feminina a partir dos 40 anos realize o exame anualmente. No Brasil, a faixa etária rastreada está restrita ao grupo entre 50 e 69 anos.

Idealizado pelo Instituto Avon - organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua na defesa de direitos fundamentais das mulheres - e pelo Observatório de Oncologia, o estudo analisou dados de rastreamento mamográfico - taxa que mede a capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) em atender a população alvo de exames de rastreamento de câncer de mama -- índices de diagnósticos e acesso aos tratamentos no Brasil, com base no DATASUS, com o objetivo de colaborar com políticas públicas de saúde que visem a descoberta precoce, acesso rápido às terapêuticas e a tomada de decisões baseadas em evidências. Entre 2015 e 2021, mais de 437 mil mulheres realizaram procedimentos quimioterápicos no país.

A pior taxa de cobertura mamográfica pertence ao Distrito Federal -- DF, chegando a apenas 4% no período analisado. Seguido pelos estados brasileiros do Tocantins, Acre e Roraima com só 6%.

“Ao observarmos dados tão alarmantes que revelam a deficiência de políticas públicas para a saúde das mamas durante a Covid-19, podemos prever que mais mulheres chegarão ao Sistema Único de Saúde com diagnósticos avançados, menores chances de cura e de qualidade de vida. Os impactos desta pandemia entre 2020 e 2021 aliados à falta de priorização em investimentos na saúde feminina se traduzem em números que vão prejudicar diretamente a saúde das brasileiras pelos próximos anos”, afirma Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon. “O câncer de mama é a principal causa de morte por câncer entre as mulheres no país e quando descoberto em estágio inicial tem 95% de chances de cura”, completa.

Além da taxa de cobertura, os dados de produção de exames apresentaram queda ao serem comparados com o período anterior. Em 2020, a baixa foi de 40% na realização de mamografias e, em 2021, mesmo com a vacina e a retomada de diversas atividades, a redução ainda representou 18% na média nacional.

Em 2020, a região com maior redução de exames foi a Centro-Oeste (50%) e, em 2021, foi a Região Sul (23%). A redução na cobertura e produção de mamografias, principal exame de rastreamento e diagnóstico de câncer de mama, faz com que, consequentemente, a população feminina chegue ao diagnóstico tardiamente.

“Conhecer o cenário local é fundamental para direcionamento de ações. O Panorama tem esse papel e é um grande aliado do gestor de saúde, tanto da esfera municipal quanto estadual para agir de maneira mais eficaz. O câncer de mama já tinha desafios relacionados ao diagnóstico e acesso ao tratamento e que foram potencializados com a pandemia de Covid-19. Divulgar essas informações alarmantes tanto nacionalmente como regionalmente é de fundamental importância”, analisa Nina Melo, coordenadora do Observatório de Oncologia.