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Dar voz demais aos jovens pode ser prejudicial para os adultos

O neurocientista, psicanalista, filósofo e especialista em psicopedagogia Fabiano de Abreu descreve sobre os jovens de hoje

Thomas Hessel - Palmas, TO

29/08/2020

| Atualizado em

29/08/2020

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Dar voz demais aos jovens pode ser prejudicial para os adultos

Rio de Janeiro, RJ - É sabido que a relação entre jovens e adultos não é fácil. No entanto, a divergência de ideias não é a única causa dessa dificuldade enfrentada por muitas famílias. O neurocientista Fabiano de Abreu explica que o conflito pode ter tido início de forma silenciosa lá atrás, durante a infância.

Todo mundo sabe que a formação de uma pessoa é moldada pelo meio em que vive. No entanto, por vivermos em uma coletividade, somos formados por ideias, pensamentos e ações. Daí a necessidade de pais educarem bem seus filhos para que esta relação não seja afetada pelas ações de diversos agentes. Acontece que ultimamente tal sintonia dentro do lar não está sendo bem feita, daí se observa o aumento dos conflitos entre filhos jovens e seus pais.

A educação é uma formação feita passo a passo. Começa lá atrás, na gestação, e vai até aos 6 anos de idade. O neurocientista e psicanalista Fabiano de Abreu explica que “a gente pode não se lembrar de nada, mas o nosso inconsciente guarda todas as falhas que tivemos em relação à educação”. Daí a necessidade de que a educação seja bem feita desde o início. No momento seguinte da vida da criança, a partir dos 6 a 7 anos de idade, é crucial a atenção dos pais: “Estes, por normalmente estarem atribulados em suas tarefas, acabam não dedicando parte do seu tempo para se preocupar em como educar os filhos da maneira correta”. Mas ele completa, “só que não adianta deixar de lado esse momento, ou os adultos terão que resolver dores de cabeça muito maiores quando seus filhos estiverem jovens. Os problemas da criança são bem mais fáceis de se resolver, já que elas são mais obedientes. Já os adolescentes querem bater de frente, e aí que está um grande problema”.

E aí que mora o perigo. O neurocientista explica como não só a atenção dos pais, mas também o meio em que o jovem vive, como peças essenciais para a educação ser feita: “Na verdade, um problema que interfere diretamente nessa relação pais e filhos é o meio externo. A cultura do jovem no Brasil está sendo prejudicada, e não somente pela forma de educar dos pais, mas sim devido à influência do meio. Os pais que não educam seus filhos tendem a criar problemas que passam para outros jovens. O filho “mal educado” vai interferir diretamente no comportamento daquele filho que foi bem educado pela família”.

Neste instante, cabe às autoridades do lar entender que a educação não é apenas um processo caseiro, mas envolve toda a sociedade: “Veja como funciona esta rede: Você tenta educar bem seu filho, enquanto o filho do outro não foi. O que acontece é que nós vivemos em uma coletividade onde a influência do lado ruim vai prejudicar aquele que faz bem seu trabalho dentro de casa. Por isso é fundamental que nós, adultos, eduquemos não apenas nossos filhos, mas também jovens e crianças perante a sociedade”.

 

Formação da identidade não acaba na adolescência

Fabiano de Abreu explica que a rebeldia dos jovens atuais é reflexo de toda essa situação, mas alerta que outra falha da sociedade é permitir que os jovens tenham voz ativa, quando o ideal seria o contrário: “O adolescente ainda está passando pela neurogênese, que é o processo de desenvolvimento do cérebro, atrás da formação de neurônios. Esta atividade vai até aos 20 anos de idade, ou seja, os adolescentes não estão com seus neurônios totalmente formados. Além disso, a cognição e a inteligência emocional só é mais desenvolvida quando você passa pelas etapas da vida”.

Daí nesta fase da vida, o neurocientista detalha, “os jovens começam a pensar que tem razão em tudo e acabam entrando em conflito com os pais, principalmente porque eles não receberam as orientações dos pais lá atrás e nem da sociedade que vivem”. Ele acrescenta que “a coletividade permite uma liberdade que é dada também pela política, que quer dar voz aos jovens quando eles ainda não poderiam ter. Assim, a juventude acredita ter um poder que na verdade não possuem”.

Reverter os conflitos deve ser algo feito dentro de casa, mas com parcerias também: “O jovem precisa aprender o que é ética e moral. Precisamos de uma interferência urgente no método de ensino nas escolas. Precisamos também de uma interferência na liberdade que estamos dando a quem não tem experiência para saber lidar com ela”, finaliza.